Já as procuras no Google pela data aumentaram 113%. Os números colocam o dia comemorativo como forte candidato a suprir uma antiga demanda do comércio brasileiro: um dia de peso no primeiro semestre, para equilibrar com o Natal e, mais recentemente, com a Black Friday nos últimos meses do ano, segundo especialistas.
Segundo Artur Motta, professor do curso de administração da Fecap, existe sim uma tendência de crescimento da data, mas ainda não é possível delimitá-la. “Ela vem se tornando uma data mais relativa, mas ainda está bem longe de ser uma Black Friday”, exemplifica ele.
Um dos principais motivo para isso, segundo ele, é que sucesso no online não se estende ainda ao varejo físico. Para Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, essa preponderância se explica pelo fato de as vendas online não precisarem de tanta preparação. O consumidor pode receber pela internet as promoções e efetuar a compra no mesmo momento. Já nas lojas físicas, é necessário saber antecipadamente dos descontos, para planejar a ida ao comércio.
“Não há ainda uma questão tradicional no Brasil do Dia do Consumidor. Você não vê as pessoas falando disso. É uma data que ainda precisa ser divulgada no país. No varejo online, a estratégia para o consumidor é mais fácil”, explica Dietze.
Mesmo com as comparações com a Black Friday, os números ainda são bem distintos. Enquanto no Dia do Consumidor, subiu de 26% para 46% a intenção de compras em entre 2018 e 2019, a Black Friday apresentou crescimento de 81% para 89% nos últimos dois anos, segundo a Ebit|Nielsen.
“Eu acho que até no mundo online a data ainda está em formação. É preciso desenhar o que de fato é esse dia e como o comércio se prepara para ele”, afirma Szasz.
Futuro da data
Para os dois especialistas, a consolidação no varejo físico é uma questão de tempo e amadurecimento. E um dos pontos principais a ser melhorado é o foco. Assim como a Black Friday é conhecida por suas promoções de eletrodomésticos e eletrônicos, o Dia do Consumidor precisa de algum tipo de produto como carro-chefe das promoções.
Um dos exemplos dessa variedade do Dia do Consumidor é a propaganda das Lojas Americanas: “Dentre os destaques estarão smartphones, itens de beleza e perfumaria, papelaria, informática, brinquedos, chocolates e produtos para a casa”, segundo a empresa. Já a Americanas.com fala em mais de 40 categorias com descontos.
Além disso, a Shoptime tem como destaques os produtos para casa e o Submarino as Tvs, Notebooks, Livros, Games e Esporte.
Procuradas por VEJA, outras redes como Casas Bahia e Extra também enviaram algumas informações e nenhuma delas cita em suas propagandas produtos específicos em promoção, dando uma ideia da diversidade que a data ainda possui.
Se depender da procura dos consumidores, o tom do Dia do Consumidor se assemelha ao da Black Friday, com uma preferência a eletrônicos e eletrodomésticos.. Segundo levantamento do site Zoom, os dez produtos mais procurados para a data são smartphones, liderados pelo Samsung Galaxy J8. Já entre as categorias, além dos celulares, estão entre as mais procuradas: tênis, ar condicionado, notebook e televisão.
Além do foco, outra mudança deve ser no número de dias. Na avaliação de Szasz, as promoções ainda são muitos voltadas para a própria data e a tendência é que esse período se expanda.
“Tomando em consideração o que ocorreu com a Black Friday, [as datas] acabam sendo distorcidas ao longo do tempo. Nos EUA, a Black Friday acontece com o dia de Ação de Graças. Depois começou a ser uma semana toda e, em seguida, utilizada por todo o mês de novembro. Agora, com um pouco mais de tempo, as pessoas entenderam. No curto prazo, tende a ocorrer uma desvirtuação”, explica ela.
Para a especialista, o alto potencial da data tem relação com sua localização no calendário. “Pela nossa análise, percebemos que em janeiro tem saldão, fevereiro é um mês curto, e sobra março, um mês grande que não tem sazonalidade nem aniversário de varejistas”, acrescenta.
Um fato curioso, é que o Dia do Consumidor não possui uma data fixa. Apesar de ser comemorado no dia 15 de março, o comércio coloca suas promoções sempre na quarta-feira mais próxima. O motivo, segundo ela, é logístico. “Se deixar a data na quarta-feira, já é possível enviar no mesmo dia os produtos. No entanto, se fosse na sexta-feira, teria de esperar o fim de semana, e só sairia no dia útil”, conta.
Neste ano, a data caiu próxima ao Carnaval, o que, de acordo com Dietze, pode influenciar negativamente no desempenho das vendas. “O problema este ano é o efeito calendário, com o Carnaval no início do mês e as pessoas gastando com viagens”, completa ele.
Fonte: Veja