Foi-se o tempo que máquina registradora do supermercado fazia só as quatro operações matemáticas. Hoje, na prática, ela é um computador que tem conexão direta com cerca de 40 mil itens do estoque e é capaz de determinar, ao fim do dia, quanto foi vendido de cada produto.
“O operador de caixa tem de ter 2º grau e conhecimentos básicos de informática. A exigência é grande para uma remuneração na faixa de R$ 1,1 mil”, diz o presidente do Sindicato dos Comerciários e da União Geral dos Trabalhadores, Ricardo Patah.
De fato, com a grande oferta de mão de obra e a evolução tecnológica, as exigências das empresas na hora de contratar têm aumentado.
Nos últimos 12 meses até março, 12% dos contratados para a função de vendedor de loja estavam cursando faculdade ou tinha já concluído o curso superior e 76% tinham ensino médio completo, aponta levantamento feito com base nas informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados pelo professor sênior da FEA-USP Hélio Zylberstajn.
O quadro se repete para balconista de farmácia, outra ocupação que, teoricamente, não exigiria tanta qualificação, já que o salário médio é de R$ 1,3 mil.
Nesse caso, 83,2% dos admitidos nos últimos 12 meses até março têm ensino médio completo e quase 10% estão cursando ou concluíram a universidade.
“Quem tem pouca escolaridade neste momento está tendo muita dificuldade de encontrar emprego porque parte das vagas que poderia ocupar está sendo preenchida por pessoas que têm formação maior do que a necessária”, afirma Zylberstajn. Ele diz que esse movimento de deslocamento da mão de obra ocorre em períodos de recessão prolongada.
Para Lucila Sciotti, superintendente de operações do Serviço Nacional do Comércio (Senac) São Paulo, é preciso haver esforço maior, por parte do poder público, de aproximar a capacitação que é oferecida aos estudantes das necessidades das empresas.
“Muitas vezes, a formação dos profissionais é deficitária. Alguns alunos chegam até nós sem saber fazer contas simples ou têm dificuldade em interpretar textos”, diz. “É preciso direcionar as políticas públicas para resolver esses gargalos.”
Diante da falta de qualificação barrando as contrações, Patah diz que no último Mutirão do Emprego promovido pelo sindicato foram ofertados também cursos gratuitos de qualificação em parceria com Senai, Senac e Centro Paula Souza. Ao todo foram cerca de 1, 3 mil vagas.
Das mil vagas oferecidas pelo Centro Paula Souza, 450 pessoas se matricularam nos cursos de estoquista, assistente administrativo, confeiteiro, cuidador de idosos, maquiagem, recepção e atendimento e vitrinista. “Pela primeira vez fizemos mutirão com capacitação: mais do que aumento salarial, o importante hoje é qualificar o trabalhador”, afirma.
No próximo evento programado para julho, Patah diz que devem ser oferecidas, no mínimo, 10 mil vagas. A intenção é atender também aos trabalhadores em situação vulnerável, com vagas para ocupações que exigem menos qualificação, como na área de limpeza, por exemplo.
Fonte: Diário do Comércio