Compras cada vez mais velozes, novas experiências nas lojas, juros baixos e a China ainda no centro do comércio mundial. Essas são algumas das tendências esperadas para 2021 por especialistas que participaram, nesta terça-feira (15), do webinar “Retail Trends – Admirável Mundo Novo”. O evento foi a primeira edição de uma série de discussões sobre o consumo e o varejo no Brasil e no mundo promovido pela Gouvêa Experience.
Um dos participantes foi Matthew Shay, CEO da National Retail Federation (NRF), que tradicionalmente promove em Nova York, todo mês de janeiro, a maior feira de varejo do mundo – no mês que vem, o evento será virtual por causa da Covid-19. Para ele, a pandemia serviu para acelerar mudanças na experiência dos clientes e proporcionou aos lojistas uma boa oportunidade de transformarem seus negócios. “Aqueles que se anteciparam e foram ágeis com certeza terão sucesso quando tudo passar”, disse o executivo.
O CEO da NRF disse que as vendas no varejo americano já têm apresentado bons resultados com a reabertura da economia. “O setor de varejo emprega diretamente 32 milhões de pessoas e sustenta 52 milhões. O setor é o maior empregador do país, em grande parte porque faz a interface entre outras indústrias e o consumidor. A pandemia não muda isso.”
Shay se disse otimista, também, com relação ao novo governo dos EUA, que será comandando pelo democrata Joe Biden. Ele afirmou que já está em contato com membros da equipe de transição para descobrir como podem trabalhar juntos para promover saúde e segurança sem prejudicar a economia. Segundo ele, também haverá oportunidade de trabalhar junto ao novo governo em questões como imigração e investimentos em infraestrutura e avançar o debate em torno das relações comerciais com outros países ao redor o mundo.
Alta das commodities favorece AL – O resultado das eleições americanas foi citado como positivo por outro participante do webinar: Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos. “Os EUA terão um presidente mais pragmático e menos ruidoso quando se fala em relações internacionais”, avaliou.
Megale vê com otimismo também a situação específica do Brasil. “As commodities agrícolas, como o petróleo e o minério de ferro, tiveram os preços fortemente ajustados para cima. Sempre que o mundo vai bem, especialmente liderado pela China, e os preços das commodities sobem, a América Latina se beneficia. Além disso, estamos em um momento em que outras grandes economias, como os Estados Unidos e os países da Europa, dão sinais de recuperação, com grande liquidez e taxas de juros baixas.”
Ele destacou o papel fundamental que o auxílio emergencial concedido pelo governo teve na manunteção de empregos e renda, mas cita a necessidade de, a partir de 2021, o governo brasileiro dar andamento às reformas estruturais que estão na pauta há décadas. “Os gastos da pandemia foram importantes, mas torná-los permanente é muito arriscado. Se o Brasil não sinalizar um controle fiscal, isso pode significar juros altos e pressão inflacionária, o que vai acabar afetando a recuperação e o emprego. A consequência social pode ser pior”, avalia.
Menos clientes e mais vendas – Outro participante do webinar “Retail Trends – Admirável Mundo Novo” foi Neil Stern, ex-consultor da McMillanDoolittle e hoje CEO da Good Food Holdings nos Estados Unidos. Ele compartilhou alguns números sobre o impacto da pandemia a partir das métricas que a Good Food Holdings vem rastreando. Segundo ele, as vendas em algumas de suas bandeiras subiram 60% – o tamanho médio da cesta mais que dobrou, mas, ao mesmo tempo, o número de clientes diminuiu.
“Temos menos clientes entrando pela porta gastando muito mais dinheiro e grandes aumentos nas vendas. Após o período inicial desse surto de compras, o que realmente vai acontecer é que vamos atingir uma certa estabilidade no desempenho, mas as vendas vão continuar boas, de 10% a 15% maiores do que as do restante do mercado”, observou.
A Good Food Holdings, que opera hipermercados, lojas de descontos, mercearias, e-commerce, serviço alimentício de varejo (como Starbucks, por exemplo) e shoppings centers, tem marcas baseadas em experiências. Até por isso, foi preciso repensar o modelo. “Precisamos ser capazes de oferecer essa mesma experiência das lojas físicas em canais diferentes. A experiência de um cliente no futuro pode ser digital, através do e-commerce ou touchless, com uma compra sem contato físico na loja”, comentou.
Uma das intenções da empresa, segundo Neil, é criar a versão 2.0 das lojas da holding, ou seja, juntar o mundo físico, as novas experiências e a nova tecnologia e tentar recriar todo o processo de compra. “Vamos olhar para a tecnologia para nos ajudar na velocidade e no processo de retirada. Desta forma, nos tornarmos mais eficientes.”
Dinâmica acelerada da China – Além da situação dos Estados Unidos, o cenário chinês também foi comentado no evento. O professor de Economia e Finanças da Fundação Dom Cabral e da New York University Shanghai, Rodrigo Zeidan, disse que, diferentemente do que muita gente pensa, a China não vai destruir as grandes economias mundiais, como os Estados Unidos. A verdade, diz o professor, é o que país asiático já é o centro do comércio no mundo – e assim deve continuar por anos a fio.
O professor destacou a dinâmica acelerada do país, que se transformou, nos últimos anos, como nenhum outro. Em 2017, a China ocupava a colocação de número 68 no ranking de países que proporcionam maior facilidade de negócios. Em 2020, esta na posição 31. Como comparação, o Brasil piorou: saiu do 123º para o 124ª lugar no mesmo período. A China recebe US$ 130 bilhões e investimento estrangeiro por ano; o Brasil, US$ 75 bilhões.
Mesmo a pandemia de Covid-19, que surgiu justamente na China, não chegou a afetar tanto assim a economia daquele país. O professor disse que o comércio online cresceu muito. Nesse sentido, ajudou o fato de a China ter a tecnologia de meios de pagamento mais avançada do mundo, em que cartões e bancos são considerados “ultrapassados”. As compras sem dinheiro e sem contato já fazem parte do dia a dia.
Onda de IPOs no varejo – O webinar terminou com um bate-papo entre Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, e Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário. Logo no início da conversa, Krigsner foi questionado sobre a onda de IPOs no varejo brasileiro – e admitiu que o grupo é sempre sondado. ‘Mas, diante dos possíveis investimentos que podem ser feitos, acredito que tenhamos uma longa caminhada até chegarmos em um momento de abertura de capital”, disse.
A gigante aposta no conceito de ecossistema de negócios e vem incorporando marcas e negócios ao longo dos anos, como Beleza na Web e Vult. Krigsner disse, entretanto, ver a necessidade de abertura de outros canais de distribuição. “Fabricamos, distribuímos e entramos nos mercados de varejo por meio das lojas, do comércio eletrônico e das revendedoras. Tudo isso traz uma complexidade para a qual nós estamos cada vez mais nos preparando, seja no offline ou no online, com a aceleração das transformações digitais”, explicou.
O executivo destacou o papel social que as empresas têm no que diz respeito as questões ligadas à sustentabilidade e meio ambiente. Segundo o fundador do Grupo Boticário, estes temas não podem ser mais tratados apenas como discursos de marketing, mas sim como uma realidade. Só assim as empresas serão aceitas pelos seus consumidores. “O consumidor de hoje quer muito mais do que um produto, ele quer saber como essa empresa está inserida dentro da realidade social e o que ela faz pelo País”, lembrou.
As demais edições do Retail Trends estão marcadas para 11 de janeiro (O melhor da NRF Capítulo 1 – Tendências no mercado norte-americano), 28 de janeiro (Estratégias vencedoras para 2021 – Tendências, estratégias e táticas em Consumo e Varejo) e 25 de fevereiro (A agenda dos CEO’S para 2021 – Desafios e oportunidades em varejo e consumo para 2021).
Fonte: Mercado e Consumo